Com o plenário lotado e todo lilás, trabalhadores/as da educação lembraram os mais de dois anos da pandemia, que os/as mantiveram distantes, e da importância do reencontro para fortalecer a luta e a organização das mulheres. Antes ainda de começar, os/as participantes do encontro da RED homenagearam as vidas perdidas pela Covid-19. Todos/as escreveram, em pequenos papéis, os nomes dos entes e amigos vítimas da doença no país.
Foto: Jordana Mercado
“Somos sobreviventes desta crise sanitária mundial e também de diversos governos neoliberais e tudo isso nos permitiu estar aqui, com compromisso de luta de classe e feminista para seguirmos defendendo a vida e a educação e políticas públicas em abundância. Estamos celebrando a vida, conjugando o verbo esperançar de Paulo Freire e reafirmando o compromisso com um novo amanhã que há por vir”, afirma a secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e vice-presidente da Internacional da Educação para a América Latina (IEAL), Fátima Silva.
“Educar é esperançar e a esperança mobiliza e transforma a nossa visão de mundo. A luta exige energia e ela é dada pelo trabalho coletivo e o acreditar num ideal de futuro e por isso é muito importante este encontro latino-americano e feminista como mulheres que lutam contra o racismo e todas as formas de discriminação com palavras nas ruas, nas roças e em todos os lugares que passamos, principalmente na escola, um lugar de mudança de mundo”, destacou Tatau.
A atividade foi finalizada com a apresentação da canção da Campanha da Convenção 190 da OIT feita pela Y Somos Todas.
A Convenção 190 e a Recomendação 206 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que tratam de ações para o enfrentamento da violência e assédio no mundo do trabalho, também foram temas de debate da RED, que tem uma campanha para a ratificação da medida internacional.
A IEAL lançou no ano passado uma campanha sobre a Convenção 190, que tem como objetivo alcançar governos, organizações de empregadores e trabalhadores, sociedade civil e empresas do setor privado, bem como formuladores de políticas, empresas e parceiros para combater a violência e assédio no mundo do trabalho.
“Temos trabalhado muito na Internacional da Educação para a aprovação do artigo da Convenção 190 da OIT, que tem sido uma tarefa da Rede Internacional de Mulheres a nível mundial. Em cada um dos países de toda a América Latina e dos sindicatos de educação, temos realizado atividades que reforçam o reconhecimento da Convenção. O objetivo é fixar estratégias de luta, formação e capacitação sindical pelo fim da violência contra mulher no trabalho e na vida”, afirmou a secretária-geral da Confederação de Trabalhadores de Educação da República Argentina (CTERA Argentina) e integrante do Comitê Executivo da Internacional da Educação, Sonia Alesso.
Mulheres da Argentina, Chile, Uruguai e Peru, países que já ratificaram a Convenção 190 falaram para as mais de 300 pessoas que participaram do encontro da RED, neste primeiro dia, sobre como foram os processos desta conquista e também dos desafios. Além disso, elas destacam a importância dos governos e sindicatos para o avanço desta medida.
A diretora da Federação Uruguaya de Magistério Trabalhadores de Educação Primária (FUM-TEP, Uruguay), Elba Pereira, contou que o país foi o primeiro a ratificar a convenção 190, mas que não foi suficiente. Segundo ela, os últimos anos foram marcados por um governo de direita que não está preocupado com os direitos das mulheres, o que torna a implementação da convenção ainda mais dificil.
“A luta interna que temos e levamos adiante nos diferentes espaços sempre precisará ser feita e como diz Paulo Freire o esperançar não pode acabar e este encontro mostra com tanta força que existe esta esperança e ela está em nós mulheres, que temos responsabilidade com o trabalho livre da violência num mundo desigual e discriminatório”, ressalta.
Para a diretora da Federação Nacional de Professores de Educação Secundária do Uruguai (FeNaPES, Uruguay), Leticia Tellechea, se o governo, de extrema direita de Luis Alberto Aparicio Alejandro Lacalle Pou, atrasa os avanços da legislação, o movimento sindical precisa atuar. Ela cita um caso de um diretor de escola que assediava uma aluna e que uma comissão de mulheres no sindicato conseguiu tirar o assediador da escola.
“Não queremos colegas assediadores e por isso estabelecemos mecanismos, como apoio jurídico e psicológico, junto a uma comissão de gênero para poder combater o assédio nos locais de trabalho em cada filial. E foi isso que nos ajudou a tirar o diretor do cargo. Ocupamos a escola , começamos articular com as autoridades e conseguimos tirar ele da direção da escola. E isso nos provou que estamos à altura de toda a nossa história de mulheres lutadoras e trabalhadoras”, afirmou.
O Brasil ainda não ratificou a Convenção 190. Para que isso ocorra, é necessário que o Executivo envie a proposta para o Congresso Nacional, o que ainda não foi feito.
“Com a atual pandemia e suas consequências econômicas, é ainda mais urgente lutar pelo fim da violência contra as mulheres, que aumentou de forma exponencial. A gente sabe da importância de ter um governo progressista para avançar nesta medida, mas os sindicatos devem continuar seus esforços para ratificar a Convenção 190 em seus países porque são eles que fizeram e fazem a diferença”, finalizou Fátima.





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